Jogo dos erros: “Criança com alergia à lactose é isolada por escola durante o lanche”

Compartilhei no grupo Mães (e pais) com filhos uma notícia que já era tendenciosa na chamada:

Criança com alergia à lactose é isolada por escola durante o lanche

O menino, de cinco anos, foi diagnosticado com a alergia quando era bebê e já foi internado inúmeras vezes por causa do problema. Apesar da foto que flagra o aluno comendo sozinho, a diretora da escola, Jane Garcia, afirma que ele come no mesmo refeitório dos colegas: “Excepcionalmente, quando o lanche é muito diferente, ele se senta no refeitório ao lado”.

 

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O que tem de muito errado, fora a insanidade de separar uma criança porque ela tem alergia alimentar?

O desconhecimento do assunto, que se mostra claro até na reportagem, pois cada um fala de um jeito sobre o tema.

A APLV é diferente da intolerância à lactose e o seu tratamento também.

A alergia é uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas, proteínas dos alimentos, de ácaros, de pólen, de pelo de animais, etc. Portanto, a APLV é uma reação às proteínas do leite (ex: caseína, alfa-lactoalbumina, beta-lactoglobulina).

A intolerância é decorrente da dificuldade do organismo em digerir à lactose, açúcar do leite, devido à diminuição ou da ausência de lactase, enzima que a digere.

A expressão “alergia à lactose” é errada e não existe, pois a alergia é uma reação à proteína e a lactose é um açúcar.

Quadro Diferença entre IL e APLV, tabela do site Alergia a leite:

APLV Intolerância à Lactose
O que é Reação do sistema imunológico à(s) proteína(s) do leite de vaca Dificuldade do organismo em digerir e absorver o açúcar do leite (lactose)devido à diminuição ou ausência de lactase (enzima que digere a lactose).
Em que idade é mais comum? Muito mais comum em crianças, especialmente em bebês. Adultos raramente têm alergia à proteína do leite de vaca. É mais comum em adultos e idososdo que em crianças. Também pode ser uma consequência, às vezes temporária, em casos de diarreia prolongada ou doenças inflamatórias intestinais.
Quais os sinais e sintomas? Um ou mais dos seguintes sintomas: digestivos (vômitos, cólicas, diarreia, dor abdominal, prisão de ventre, presença de sangue nas fezes, refluxo, etc.), cutâneos (urticária, dermatite atópica de moderada a grave), respiratórios (asma, chiado no peito e rinite), reação anafilática, baixo ganho de peso e crescimento. Podem ocorrer em minutos, horas ou dias após a ingestão de leite de vaca ou derivados, de forma persistente ou repetitiva. Apenas intestinais: Diarreia, cólicas, gases, distensão abdominal (barriga estufada). Podem ocorrer em minutos ou horas após a ingestão do leite de vaca.
Como é feito o diagnóstico? Pelo médico. Inicia-se pela história clínica, associando os sintomas à ingestão do alimento suspeito. Alguns exames podem ajudar, mas o diagnóstico é confirmado apenas quando há remissão dos sintomas durante a dieta isenta das proteínas do leite e retorno após o Teste de Provocação Oral. Esse teste consiste em reintroduzir o leite em pequenas e progressivas doses e deve ser realizado na presença do médico. Pelo médico, por meio da observação dos sintomas associado à ingestão do alimento com lactose. Em alguns casos são solicitados exames específicos.
A mãe pode continuar amamentando o filho no peito? SIM, e DEVE. Neste caso, a mãe que amamenta deve seguir uma dieta especial isenta de leite, derivados e alimentos que possuem as proteínas do leite, sempre sob a orientação de um médico e/ou nutricionista. SIM. O leite materno deve ser sempre o principal alimento oferecido ao bebê. É muito raro ocorrer intolerância à lactose durante o aleitamento materno, pois apesar do leite materno ser rico em lactose ele possui agentes facilitadores que auxiliam sua digestão.
Se o bebê não estiver mais mamando no peito, é preciso que ele siga alguma dieta especial? SIM. É necessário retirar o leite de vaca e seus derivados da dieta, além de todos os alimentos preparados com as proteínas do leite. ATENÇÃO aos alimentos industrializados, que podem conter leite ou ingredientes derivados (como, por exemplo, caseína, caseinato, soro do leite ou proteínas do soro). SIM, mas o tratamento da IL é dose-dependente, ou seja, o aparecimento dos sintomas depende da quantidade de lactose ingerida. Não é necessário fazer a exclusão total de leite e derivados na dieta, apenas definir quanto o indivíduo consegue tolerar. Algumas pessoas conseguem consumir derivados de leite sem apresentar sintomas, uma vez que eles possuem menos lactose que o leite.
Bebês não amamentados precisam de algum leite ou fórmula especial? SIM, O médico e/ou nutricionista irão indicar a fórmula mais adequada de acordo com a idade e o tipo de reação que a criança apresenta (veja o material comparativo entre as fórmulas no site). ATENÇÃO – leite de cabra ou de outros mamíferos (ovelha, búfala) não são indicados para APLV, pois suas proteínas são semelhantes às do leite de vaca e podem causar as mesmas reações na criança. SIM. Crianças de 0 a 2 anos podem utilizar fórmulas especiais isentas de lactose. Acima de 2 anos os produtos com baixo teor de lactose são bem tolerados.

Eu tenho intolerância à lactose e sempre tenho que explicar para as pessoas o que isso significa.

Segundo pesquisa Datafolha “Conhecimento sobre a intolerância à lactose na população brasileira”, de julho de 2016, cerca de 53 milhões de pessoas no Brasil relatam ter alguma dificuldade digestiva depois do consumo de derivados do leite. Esse número representa 35% da população com mais de 16 anos e pode estar associada a perda da capacidade de produção de lactase, enzima responsável pela quebra do açúcar do leite, a lactose.

O que me salva?

Primeiro, o fato de eu ter isso desde criança (mesmo sem diagnóstico precoce) e por isso não gostar da maioria das coisas com leite. Brigadeiro, por exemplo, nem sinto falta. Queijos em geral, idem.

Em segundo lugar, me ajuda usar a enzime que me falta, a lactase, para ajudar a digerir quando preciso (porque estou fora de casa e sem opção) ou quando quero ingerir comidas com lactose demais.

Costumo usar a lactase importada dos EUA, mas há algumas semanas me enviaram amostras de uma versão equivalente brasileira, a Perlatte, que age da mesma forma: quebra o açúcar advindo do leite ou de seus derivados, permitindo a digestão da substância e, portanto, o não aparecimento dos sintomas.

Mas Sam, já tem lactase no Brasil. 

É verdade. 

Mas eram em pó, precisavam diluir na comida ou eram “fracas” em relação à americana, necessitando de mais porções para dar conta de uma ida à pizzaria, por exemplo. 

Este é o um suplemento alimentar de enzima lactase no formato de comprimido, ou seja, pronto para o uso direto, sem necessidade de ser diluído em água, dissolvido ou misturado no preparo dos alimentos. Isto dá praticidade e discrição, sendo um aliado importante para o paciente que sofre com os sintomas e com as restrições alimentares, impactando sua qualidade de vida e convívio social.

Segundo a assessoria, é também o único a contar com estudo clínico comprovado e com aprovação da ANVISA. Entenda:

Nos organismos com deficiência de lactase não ocorre a quebra da lactose no intestino delgado. O açúcar permanece inalterado e segue para o intestino grosso, onde as bactérias o fermentam, liberando gases (Hidrogênio (H2)), e causando os sintomas. No estudo clínico, os pacientes que fizeram uso do Perlatte apresentaram menor excreção de Hidrogênio, ou seja, tiveram menor fermentação intestinal do que os comparados às pessoas que fizeram uso de outro suplemento, diminuindo o aparecimento dos desconfortos.

Não estou sugerindo que usem a enzima com crianças, tá?

Estou mostrando que tem jeito! Basta boa vontade e informação!

E para fechar, não custa repetir os tipos de intolerância:

  • Primária: Geralmente ocorre em função do envelhecimento. Após a infância é natural a diminuição da produção de lactase.
  • Secundária: Quando a produção de lactase é afetada por meio de alguma doença. Por exemplo: Doença de Crohn, Celíaca, Síndrome do Intestino Irritado e outras.
  • Congênita: Nesse caso, a pessoa não produz lactase desde o nascimento. De todos os quadros, esse é o mais raro, onde a lactose não pode fazer parte da dieta durante a vida toda.

 

 

Referências Bibliográficas:
1 – Francesconi, CFM; Machado, MB; Steinwurz, F. et al. Oral administration of exogenous lactase in tablets for patients diagnosed with lactose intolerance due to primary hypolactasia. Arquivos de Gastroenterologia, 2016. 53(4), 228-234.
2 – Mattar, R.; Mazo, DFC. Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular. Revista da Associação Médica Brasileira, 2010. 56(2), 230-236

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