Durante a gravidez ouvi mil coisas sobre como ser mãe. Ouvi quem já era mãe há anos, quem era mãe recente, mãe de muitos, mãe de um só e até quem não era mãe. Enfim, todas nós sabemos que é assim mesmo, quando anunciamos a gravidez surgem milhares de conselhos, sugestões e palpites por todos os lados.
Como Miguel nasceu prematuro, eu passava parte do dia no hospital acompanhando, tirando leite, fazendo canguru e, em alguns momentos eu frequentava a sala do “conforto de mães”, ali mesmo no hospital. Era um espaço reservado exclusivamente para as mães de UTI, como éramos chamadas. Ali a gente batia papo, ria, chorava, comentava sobre a evolução ou involução dos nossos bebês, estreitávamos os laços de amizades e, falávamos MUITO, muito mesmo.
E foi ali, naquela nossa salinha que algo que mais me deixou preocupada:
– Quando eu tive meu primeiro filho, eu não conseguia fazer nada, se quer penteava o cabelo. Eu só conseguia tomar banho a noite, quando meu marido chegava em casa pra ficar com o bebê.
Naquele momento meus olhos devem ter saltados pra fora, a primeira coisa que pensei foi “caramba estou perdida, nunca mais tomarei banho na vida!“, uma vez que, sou viúva e não teria a chegada do meu marido para cuidar do Miguel [não se assustem, sempre procurei encarar esse assunto da viuvez com leveza e humor]. Me ajeitei na poltrona para ouvir melhor o papo dessas mães ao mesmo tempo que tentava imaginar o que estava por vir quando fosse pra casa com meu filho. E aquela mãe continuava dizendo sobre como perdeu a vontade de se arrumar, de ficar bonita pra ela mesma, e, aos poucos foi perdendo a vontade de se olhar no espelho, pois, para ela o mais importante era o seu bebê.
Fiquei ali ouvindo cada depoimento com um pequeno pesar no coração, pois, ao mesmo tempo que entendia o fato da mãe optar por se dedicar 101% ao seu filho, também me doía ver como ela abdicou de si mesma e, sem notar, foi deixando seu amor próprio de lado. Então pensei: “ser mãe é isso, é deixar de se amar para amar somente ao filho?” Naquele dia, voltei para casa atordoada, zonza, pensando se esse seria minha forma de encarar a maternidade.
E foi a partir daí que comecei a moldar a forma como eu iria encarar a maternidade solo, sem perder meu amor próprio, sem deixar de lado minhas vaidades e minha autoestima. E continuar apaixonada pela minha imagem no espelho. Todos os dias me arrumava da melhor forma possível nas roupas que começavam a me servir depois do parto, chegava na maternidade como quem chega a algum evento bacana, sorrindo, com uma maquiagem leve, cabelos escovados e unhas feitas [fazia questão de fazer as unhas todo sábado, logo cedo, antes de ir para o hospital], lembro que o Dr. Sérgio, pediatra que acompanhava meu filho, me recebia sempre dizendo “chegou a mãe do Miguel, a mamãe mais estilosa dessa UTI” e sorria de forma acolhedora, ele que conhecia toda minha história, foi como um pai pra mim durante todo período de internação. E forma como ele me dizia isso enchia meu coração de alegria, naquele momento eu sentia que a Alcione de sempre ainda estava ali, viva, acesa, iluminada.
Esses pequenos detalhes me fortaleceram e me estimularam a manter essa vontade de querer ser bonita sempre. Mesmo sem motivos especiais, mesmo sem ter um companheiro para me elogiar e notar que cortei e pintei o cabelo. Porque naquele instante encontrei a pessoa mais importante a quem eu deveria [e devo] agradar: EU MESMA. E fui me amando cada dia mais.
E no dia da alta médica, quando Miguel finalmente poderia ir pra casa. Fui ao salão, escovei o cabelo e fiz as unhas, e segui para o hospital, como quem segue para um encontro. Era um momento especial e minha imagem devia estar à altura.
E no primeiro dia em que fiquei sozinha com Miguel em casa, me lembrei daquele papo entre as mães sobre não conseguir ter tempo para tomar banho, se arrumar ou praticar qualquer tipo de vaidade. E pensei: não deixarei de ser eu mesma, e também não deixarei de ser uma mãe dedicada, já fiz muita coisa ao mesmo tempo, lidei com a perda do meu marido e do meu pai num espaço curto de 6 meses e mesmo assim não deixei de cuidar do meu filho, então não é agora que irei me intimidar, vamos em frente, vamos aprender como continuar cuidando de mim mesma sem descuidar do meu filho. E desde então, foi um exercício diário, mudar a rotina, acordar 1 hora antes pra me arrumar antes de arrumar o filho e organizar a bolsa com tudo que um bebê precisa, aproveitar a soneca da tarde para tomar banho [de porta aberta], com direito a lavar e secar o cabelo, sem stress e sem medo. Ir ao salão com o carrinho de bebê e toda tralha necessária para abastecer e higienizar o bebê, enfim, aprendi que eu não tinha que mudar minha essência para me tornar mãe do Miguel, mas sim inseri-lo em minha rotina diária, adaptando sempre da melhor forma para que nós dois pudéssemos ter e receber o melhor de mim, o meu amor. E acredite, é assim até hoje.
Se foi fácil? Claro que não! Mas continuo não me permitindo sair de casa vestida de qualquer maneira, muito menos sem uma maquiagem leve ou ao menos um batonzinho básico. Claro que seria muito mais fácil se eu fosse rica [e linda] como a Gisele Bündchen, mas acredite, não é impossível.
Talvez você ache que este seja tema fútil, já que a vaidade é conhecida como um pecado capital, e não é um tipo de valor que você gostaria de passar aos seus filhos. Mas o assunto em questão aqui é a nossa autoestima, nosso amor próprio, o apaixonar-se por si mesmo. E isso toda mãe deveria ensinar aos seus filhos.
Claro que este post não é uma crítica à forma que cada mulher encara a maternidade, muito menos para dizer quem está certa ou errada sobre a dedicação aos filhos, seja ela total ou parcial. Resolvi escrever este post porque sei que muitas de nós temos dúvidas e dificuldades, que muitas vezes não externamos, e se quer imaginamos que outras mães passam pela mesma situação. Acho importante compartilhar, assim a gente descobre outras formas de lidar com as situações.
Que tal nos contar um pouco sobre a sua experiência, a sua história e forma de pensar pode mudar a vida de alguém. Vamos lá, comente, opine, quero aprender com você.
Bjs 😉