Vida de pirata no CCSP

Uma pesquisa realizada no ano passado (2017) pelo Instituto Locomotiva identificou que 56% dos trabalhadores brasileiros se consideram infelizes no trabalho. Em relação ao resto do mundo, o brasileiro é um dos que possui a maior carga horária de trabalho, em média, 43,5 horas por semana, ou 8,7 horas por dia: mais do em que países como Dinamarca, França e Estados Unidos, em que a média semanal é, respectivamente, 38,3, 40,5 e 43 horas. Ou seja, mais da metade da população passa mais de 1/3 do seu dia fazendo algo que não lhe traz felicidade. A “normalização” dessa forma de encarar a vida recai sobre as crianças que enquanto os pais estão no trabalho, elas precisam ter sua agenda preenchida, seja por escola integral ou outras atividades. Estas atividades também ambicionam um único propósito: a preparação para o mercado de trabalho na vida adulta.
 
Essas ações na vida das crianças já trazem consequências: Em estudo publicado em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que o transtorno depressivo é a principal causa de incapacidade de realização das tarefas do dia a dia entre jovens de 10 a 19 anos. No Brasil, não é diferente. Embora não haja dados estatísticos, estima-se que a incidência do distúrbio gire em torno de 1 a 3% da população entre 0 a 17 anos, o que significa, mais ou menos, 8 milhões de jovens. Apesar de existirem diversos fatores para justificar esse índice, o estilo de vida que levamos pode favorecer a manifestação da doença, como explica Marco Antônio Bessa, psiquiatra do Hospital Pequeno Príncipe (PR):
“Muitas crianças estão com a agenda lotada de compromissos, o que eleva o grau de estresse, dormem mais tarde, ficam fechadas em ambientes como apartamentos e shoppings, usam aparelhos eletrônicos excessivamente, sob risco de aumento de ansiedade e restrição do contato social, e convivem menos com seus pais”.
Mas e o momento de “ser criança”? E a hora de brincar e sonhar? Por que ela acaba? Quando que nós, crianças e adultos, podemos nos aventurar em busca do nosso tesouro pessoal? Quando deixamos de lado nossos sonhos e nos “focamos” apenas em sobreviver em vez de viver? Esses são alguns questionamentos que o espetáculo “Vida de Pirata!” pretende provocar nos adultos e nas crianças. A arte, em especial o teatro, é uma experiência de reflexão sobre as questões da cultura e da sociedade, e o “faz de conta” é uma proposta que permite apresentar esses temas densos de maneira lúdica. Um espaço ainda preservado para que se possa sonhar e brincar. Ao apresentar personagens que vivem à margem da sociedade, em busca de seus sonhos mesmo sob dificuldades, pretendemos recuperar no adulto que está assistindo o sentimento de quando imaginava que tudo era possível, e mostrar para as crianças que existem outras maneiras de se viver e de se relacionar com o mundo.
Diante da percepção de que a sociedade vive um momento urgente para discutir o tipo de adulto que nos tornamos e “o tipo” de criança que estamos direcionando para a vida adulta, o espetáculo infantil “Vida de Pirata” propõe uma reflexão sobre como o mercado de trabalho e a sociedade de consumo aniquilaram o sonho. 
Todos os personagens tem representações brasileiras em seus figurinos, como a capitã cangaceira, a navegadora baiana, a imediata gaúcha, o marujo caipira e o músico carioca.

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Não sei como é por aí, mas aqui, tanto os meninos como minha caçula gostam de brincar de pirata. E ela tem sorte, pois nasceu neste mundo que tem histórias com mulheres empoderadas em toda parte, até nos navios.

No sábado estivemos na estreia o espetáculo infantil “Vida de Pirata”, da Cia do Liquidificador, no Centro Cultural São Paulo – CCSP. 

Eu e Nivia (colunista e psicóloga da turma Mãe com filhos) levamos nossas meninas Manuela #aos5 e Luiza #aos9 para sentir qual seria a idade mais adequada.

Logo na entrada, festa! Além da turminha da dança, que estava por todos os lados no CCSP, a Cia do Liquidificador tinha deixado um baú com fantasias para as crianças posarem para fotos na frente das peças promocionais do espetáculo. Foi muito gostoso, até eu posei!

Mas durante o espetáculo, que dura cerca de 1h, a idade fez diferença.

Em vários momentos, Manu teve medo, abraçou a amiga mais velha e duas vezes fugiu para meu colo.

Pode ser manha, mas também pode ser uma certa dificuldade de compreender o enredo que, de fato, é um tanto complexo para crianças muito pequenas, pois fala de escolhas, profissão, mudanças de vida, felicidade no trabalho.

Enfim, eu indicaria para crianças maiores, entre 8 e 13 anos, mas minha filha de 5 anos se divertiu, embora eu não possa afirma que ela entendeu tudo.

Ah, uma ressalva minha, bem particular, de mãe de dois homens:

Onde este mundo de empoderamento feminino vai parar? São dois personagens masculinos e ambos são desajeitados ou dispensáveis, sem igualdade entre as mulheres em situação de poder (lembrava a hierarquia escolar, onde tem mulher nos cargos mais importantes, sabem?). 

Serviu para eu pensar muito, não só nos papeis do enredo, mas na minha estranheza com o que acostumei a ver com homens no comando. E isso é ótimo, afinal, as melhores histórias são as que fazem a gente repensar a realidade na qual estamos inseridos.

A peça fica em cartaz até 16 de setembro, sempre aos sábados e domingos.

No palco, uma capitã pirata e sua tripulação vivem muitas aventuras a bordo de seu navio. Tempestades, monstros marítimos, intrigas, caça ao tesouro e dois ratos malandros recheiam essa história sobre amizade, lealdade e viver em busca dos seus sonhos, tudo isso permeado com performances de circo, música e commedia dell’arte.

Serviço:

  • Espetáculo infantil “Vida de Pirata”
  • Data: 11/08 a 16/09, sábados e domingos
  • Horário: 16h
  • Local: Centro Cultural São Paulo (CCSP)
  • Endereço: Rua Vergueiro, 1000 – Liberdade
  • Ingresso: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia)
  • Estacionamento: Não possui
  • Acessibilidade: Acesso para cadeira de rodas
  • Lugares: 321
  • Público: Livre
 
Ficha Técnica:
  • Autor e Diretor: Fábio Spila
  • Produção: Cris Leonel, Fábio Spila e Letícia Calvosa
  • Música Original: Daniel Assad e Fábio Spila
  • Direção Musical: Daniel Assad
  • Preparação de Circo e Coreografias: Veronica Rossetto Piccini e Renato Mescoki
  • Cenografia e Adereços: Mauro Martorelli e Victoria Moliterno
  • Bonecos: André Mello
  • Figurino: Henrique Athayde
  • Video-Mapping: Vítor Massao
  • Elenco: Cris Socci, Daniel Assad, Tatiana Abrantes, Letícia Calvosa, Renato Mescoki
  • Imprensa: Sem Paredes Cultural
  • Sonoplastia: Vitor Bathaus
  • Fotos: Rafael Marques
  • Comunicação Visual: Socci Comunicação e Alberto Tamataya
 
 
Sobre a Cia. Do Liquidificador
 
Criada no início de 2013, a Cia. do Liquidificador usufrui de todas as possibilidades cênicas em suas atividades, em especial as artes circenses, a contação de histórias, o teatro físico, a dança e a música. Como fio condutor da pesquisa, o grupo propõe o estudo de questões contemporâneas, contrapondo histórias de tradição oral aos clássicos da literatura como forma de debater a evolução da humanidade, a transformação social e a metamorfose da própria arte. Desde então, a Cia. mantém um treinamento semanal intensivo, com aulas de dança, circo e canto, além de encontros para pesquisas, que vem resultando em intervenções, contações de histórias e espetáculos em diversos eventos e espaços culturais, como Virada Cultural de São Paulo, FLIP, Bienal do Livro de São Paulo, além de SESCs, Centros Culturais, Bibliotecas, Parques e Praças.
 

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