Desde que comecei a divulgar meu interesse pela panificação, minhas amigas sempre me enviam textos, divulgação de cursos, enviam e pedem receitas, tiram dúvidas e, claro, fazem convites especiais como o que recebi e fiz questão de aceitar, para conhecer e degustar um delicioso brunch na Casa Levi, lá Mooca. (Gratidão Sam, foi muito especial!)
Estivemos eu, a Sam e a Manu, por algumas horas, degustando delícias, inebridas pelo aroma, vivendo o clima do lugar e conversando. Em certa altura do evento, o Chef Walter Ramos parou ao nosso lado com um delicioso pão de cabotiá e lá vamos nós saber mais deste lugar, daquela receita.
Aproveitamos, eu e a Sam, para contar a ele sobre o meu projeto “Devaneios de Forno”, em que eu me reúno com outras pessoas, maioria mulheres mães, para sovar pão e refletir sobre nossos processos de conflito, angústia e transformação. Fazer pão é um processo que requer cuidado, paciência e respeito para que se consiga chegar no produto final que é o pão fofo, macio, sendo uma metáfora poderosa para se pensar nos nossos processos de crescimento ao longo da vida. Como cada parte de nós precisa ser reintegrada à nossa “massa” depois de cada momento difícil, de como os momentos duros nos transformam em pessoas melhores depois e do quanto às vezes nos atrapalhamos com o tempo, somos invadidos pela ansiedade de nos livrarmos logo daquela angústia, o que faz com que ela pareça muito maior e completamente sem fim.
http://www.maecomfilhos.blog.br/2017/08/terapia-na-cozinha.html
Aí o Walter começou a nos contar sobre sua trajetória com o levain. Ele disse que assistia e lia todos os chefs renomados, olhava, pesquisava todas as receitas, testava, testava, testava, sempre sem sucesso, até que um dia alguém sugeriu que ele deveria criar o próprio levan.
Ele nos perguntou se a gente se lembrava do Tamagotchi, aquele bichinho virtual que virou febre na década de 90. Disse que o levain é como aquele bichinho, que precisa alimentar, cuidar, dedicar, senão ele morre. E ele cresce no tempo dele, então é preciso observar e respeitar este tempo.
Para meus ouvidos de psicóloga, foi como ouvir o testemunho de um lindo processo terapêutico. Fiquei com a sensação de que o levain é a metáfora perfeita para um processo de autoconhecimento. Porque é bem assim, é necessário coragem pra começar, mergulhar dentro de si é um caminho um tanto árduo. Tem chances grandes de encontrar caminhos tortuosos que levem a lugar algum. É preciso perseverança pra resistir ao desânimo. É preciso persistência, tentar e tentar, aprender com as etapas e seguir construindo as novas etapas, quantas vezes for necessário até que se pegue o jeito. É preciso paciência, muita paciência, porque tempo interno é algo muito singular e de difícil mensuração. E é preciso calor, colo, pausa, porque num processo tão precioso, a frustração pode ser uma fiel companheira. A parte incrível disso tudo é que, o que se constrói neste processo, carrega-se para todos os novos desafios.
Assim como o Walter e seu levain. O que chamou muito a minha atenção na nossa conversa foi ele contar que partiu em busca da própria receita, como quando uma pessoa decide que precisa mudar a vida, que precisa construir outra forma de ser e estar no mundo, que do jeito que está não é bacana, mas que as fórmulas vindas de fora até fazem algum sentido, mas não necessariamente funcionam.
Depois que o Walter encontrou o seu jeito, construiu o seu fermento, uma linha inteira de coisas deliciosas foram criadas e a gente fica até confusa na hora de escolher qual gostou mais, o que a gente leva pra casa. Ele não nos contou, mas eu arrisco-me a dizer que ele vive fazendo novos testes, buscando novos ingredientes e sabores e, mesmo que alguns destes testes dêem errado e o dia seja um fiasco, estou certa de que ele até vai dormir cansado e frustrado, mas segue confiante de que no dia seguinte tudo pode dar certo.
Quando mergulhamos dentro de nós mesmos e construímos essa autoconfiança, mesmo numa noite muito escura reina a certeza de que o sol sempre nasce, mesmo que não se possa ver.
Eu nunca me arrisquei nos caminhos da fermentação natural, só nos caminhos do autoconhecimento e nos processos psicoterapêuticos. Creio mesmo que neste momento da minha vida meu “Tamagotchi” sobreviveria muito pouco (risos). O fermento que mora em mim anda crescendo em outras “praças”, então meus pães, por hora, continuarão sendo feitos com aquele fermento comprado mesmo.
E quando bater a vontade de degustar um produto gostoso, feito com a dedicação que a gente vê e lambe os dedos, eu vou lá na Casa Levi provar os pães do Walter, junto com café coado na própria xícara (adorei), enquanto aproveito a simpatia do pessoal da Casa, o clima intimista e gostoso e, quem sabe, se o Chef estiver “de boas”, ainda aproveito para trocar umas figurinhas.
Quer saber onde fica esse lugar delicioso? Fica aqui, ó:
- Casa Levi – Padaria Artesanal
- Endereço: Rua Bixira, 138 – Mooca, São Paulo – SP,
- Telefone: 2084-0894
- Capacidade: 24 lugares
- Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 07h30 às 19h, sábados das 09h00 às 19h e aos domingos e feriados das 09h às 12h. Não abre às segundas.
- Aceita cartões de débito e crédito
- Aceita encomendas com 24h de antecedência
- Possui wi-fi.
Quer entender melhor esse devaneio? Convide-me pro café com pão, eu vou adorar!
Seus textos são sempre preciosos e gostosos de ler… espero em 2019, finalmente, poder aprender fazer pão – regado a conversas – com você! Ahh e agora tenho que ir conhecer a Casa Levi, deu vontade de experimentar tudo..rs..
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