O ano começou com um tema importante de volta aos debates: publicidade infantil.
Um dos motivos foi esta notícia:
O Ministério Público pede que vídeos de youtubers mirins sejam retirados do ar.
Através de uma ação pública, na qual fazem parte vídeos de youtubers mirins como Julia Silva, Felipe Calixto, Manoela Antelo, Gabriela Saraivah, Duda MG e o canal Vida de Amy, o Ministério Público do Estado de São Paulo solicitou que o Youtube retire os vídeos de crianças que fazem propaganda velada de brinquedos destinados ao público infantil.
A grande questão para o MP é que essas publicidades muitas vezes não são explicitas, os youtubers apenas aparecem abrindo brinquedos populares entre o público infantil, por exemplo, a boneca LOL. Cria-se um falso desejo nos inscritos, que admiram quem está gravando os vídeos e querem ter o mesmo que a outra criança tem. Eles ainda não tem completo discernimento, por isso é uma prática abusiva.
No nosso grupo “Mães (e pais) com filhos“, o tema reverberou e muita gente compartilhou o link que deixamos lá, além de deixar comentários. Há um risco claro de ensinar as crianças a serem consumistas e fúteis, como comentou Helenice. Outra mãe, Elaine, reforçou que, além do estímulo ao consumismo, há uma exploração da imagem das crianças.
Como ela, eu também não permito de jeito nenhum que assistam estes canais em casa.
Veja como as ações do Instituto Alana e o Ministério Público corroboram nossa posição:
Tudo começou com uma denúncia do Instituto Alana sobre uma campanha promovida pela Julia Silva, influenciadora digital de 13 anos, que incentivava os mais de 4 milhões de inscritos a cumprirem desafios envolvendo as bonecas Monster High. Os melhores iriam ser premiadas com as bonecas e teriam a chance de se encontrar com a dona do canal.
O núcleo técnico do MP concluiu que não estava claro que era uma publicidade, já que a informação de propaganda não aparecia com clareza nos vídeos da menina.
Comentei deste tema com uma amiga (que nem tem filhos, mas tem sobrinhos e é uma pessoa antenada) e ela me indicou uma leitura que trago para cá, um artigo de Paulo Silvestre Jr no LinkedIn.
Você sabe proteger seus filhos da publicidade?
Republico trechos para convidar todos a esta reflexão:
Crianças não têm poder de compra. Entretanto, elas têm grande influência nos gastos de uma família. Mas quem as influencia naquilo que elas desejam comprar? Apesar de a publicidade infantil estar virtualmente banida no Brasil desde 2014, não se engane: ela continua existindo, porém travestida de formatos novos e muito mais eficientes. Diante disso, você sabe como proteger as suas crianças dessa nova publicidade?
Estudos indicam que crianças até os seis anos não seriam capazes de diferenciar um conteúdo editorial, como um programa de televisão, de uma propaganda.
Só após os 12 anos seriam capazes de compreender o caráter persuasivo da publicidade.
Em outras palavras, crianças seriam vítimas indefesas de campanhas que diriam o que comer, com o que brincar, o que vestir e muito mais. Essa é uma das bases para as legislações contrárias à publicidade infantil.
O debate se aprofunda por todos os lados. Mesmo sendo de 2016, vale ver este vídeo do Jornal da Cultura Debate:
O que você pode fazer
Legislações e iniciativas com a acima são bem-vindas para melhorar essa situação. Mas vocês, como pais, avós, tutores ou educadores, têm um papel essencial nesse processo. E os ganhos são múltiplos: não apenas ajudarão suas crianças a lidar com essa situação, como melhorará -e muito- seu relacionamento com eles.
A primeira coisa a fazer é não proibir. Isso não funciona! Como diz o ditado, “tudo que é proibido é mais gostoso”! Então, diante disso, a criança encontrará meios de burlar a proibição, e o tiro sairá pela culatra.
Em segundo lugar, estabeleça, desde bem cedo um canal de diálogo franco com os pequenos. Mas, para que isso funcione, deve ser bilateral: as crianças devem ter abertura total para que confiem nos pais, mas os pais também precisam confiar nas crianças. E isso deve ser em tudo! Se for exigida confiança de apenas um dos lados, não funcionará.
Por fim, desenvolva o gosto de fazer junto com as crianças as coisas que elas gostam de fazer: brincar, contar histórias, ler livros, ver filmes e desenhos, participar de jogos e games e -claro- assistir a vídeos no YouTube (que não tem nada de errado por si só).
São três pilares simples de entender, mas admito que não tão simples de realizar, ainda mais para pais que trabalham fora. Mas, oras, a paternidade é isso! E essas tarefas não precisam consumir muitas horas do dia. Se bem feito, alguns minutos podem fazer a diferença entre crianças saudáveis, independentes, conscientes e felizes e pequenos tiranos, que crescerão como adultos irresponsáveis, sem limites, incapazes de ter uma vida saudável e construtiva na sociedade.
E qual dos futuros vale a pena investir seu tempo?